O levantamento aponta que a maioria dos óbitos ocorreu na região sudoeste, e 67% das vítimas tinham entre 19 e 45 anos. Dados do GGB, divulgados em 20 de janeiro de 2024, mostram que 257 pessoas LGBTQIA+ tiveram morte violenta no Brasil em 2023, o que equivale a uma vítima a cada 34 horas. Segundo a organização, essa estatística mantém o Brasil no posto de país mais homotransfóbico do mundo. A ONG coleta há 44 anos dados sobre mortes por homicídio e suicídio da população LGBTQIA+, compartilhando reportagens, pesquisas na internet e informações obtidas com parentes das vítimas. O número registrado pelo GGB, no entanto, pode ser ainda maior, segundo a entidade: 20 mortes. Ainda estão sob apuração, o que poderá levar os casos para até 277. "O governo continua ignorando esse verdadeiro holocausto que, a cada 34 horas, mata violentamente um LGBT", disse o antropólogo Luiz Mott, fundador do grupo. Do total de mortes registradas pela ONG, 127 se referem a pessoas travestis e transgêneros, 118 eram gays, 9 foram identificadas como lésbicas e 3 como bissexuais.
Pela segunda vez em quatro décadas, as mortes de travestis ultrapassaram em número absoluto as dos gays. Isso é preocupante porque travestis e transexuais representam um milhão de pessoas, enquanto os gays representam 10% da população do Brasil, cerca de 20 ou 22 milhões de pessoas. Assim, a chance ou o risco de uma trans ou travesti ser assassinado no país é 19 vezes maior do que para um gay ou uma lésbica, conforme Luiz Mott afirmou em entrevista ao Ronda Geral Bahia. O relatório revelou ainda que a maioria das vítimas (67%) eram jovens que tinham entre 19 e 45 anos quando sofreram a morte violenta. O mais jovem deles tinha apenas 13 anos e foi morto em (Sinop, Mato Grosso), após uma tentativa de estupro. Dentre essas mortes, 204 casos se referiam a homicídios e 17 a latrocínios. O (grupo gay da Bahia) também contabilizou 20 suicídios, 6 a mais do que os registrados em 2022.
Locais da violência
Quanto ao local da violência, 29,5% das vítimas morreram em suas residências, enquanto uma em cada quatro morreu nas ruas ou espaços externos. Persiste o padrão de travestis serem assassinadas a tiros na pista, terrenos baldios, estradas, motéis e pousadas, enquanto gays e lésbicas são mortos a facadas ou com ferramentas e utensílios domésticos, sobretudo dentro de seus apartamentos.
Regiões mais violentas no índice.
Outro dado que o (grupo gay da Bahia) considera preocupante é que a maior parte das mortes foi registrada no sudoeste. Foi a primeira vez em 44 anos que assumiu a posição de região mais impactada, com registros de 100 casos. O nordeste apareceu na segunda posição, com 94 mortes. Na sequência, vieram as regiões sul, com 24 mortes, centro-oeste, com 22 mortes, e norte, com 17 mortes. Chama a atenção o aumento inexplicado da mortalidade. Violência contra a comunidade LGBT+ no sudoeste saltou de 63 casos em 2022 para 100 casos em 2023, ocupando o primeiro lugar nacional. Este fenômeno jamais foi observado desde 1980, representando um aumento de 59%. Infelizmente, tais dados evidenciam que, diferentemente do que se propaga e do que todos aspiramos, maior escolaridade e melhor qualidade de vida material na região não têm funcionado como antídotos à violência letal homotransfóbica. Disse Alberto Smith, coordenador do Centro de Documentação Luiz Motti do grupo Dignidade de Curitiba.
Matéria: João Paulo