De temido a esquecido: a luta do Galícia para se reerguer e voltar ao cenário do futebol nordestino

Segundo episódio da série Reinvenção FC conta como primeiro tricampeão baiano "sumiu" após glórias e agora trabalha para virar SAF e voltar a ter força no estado

Para um time que tem a alcunha de Demolidor de Campeões, amargar anos no segundo plano do futebol estadual e ficar apagado depois de tantas conquistas não é nada fácil. Esta é a realidade do Galícia, time que foi de tricampeão baiano ao risco de fechar as portas em meio a uma crise política e financeira nas últimas duas décadas.

A jornada do clube começou em 1933, quando imigrantes espanhóis, da região da Galícia, oeste da Espanha, fundaram a agremiação ao chegarem a Salvador. Em entrevista ao Globo Esporte BA, o mestre e professor de história Pedro Uzêda explicou um pouco da origem do Galícia e o contexto histórico da época na capital baiana.

- Para pensar o Galícia, temos que entender algumas conjunturas da época. O Galícia é de 1933, e a imigração é muito importante. O século XX é marcado pela imigração em todo o mundo, e o Brasil, no fim da escravidão, abriu as portas para imigração europeia. Em São Paulo teve muito italiano, no Rio muitos portugueses, no Sul muitos alemães, e, aqui, em Salvador, prevaleceu a chegada dos galegos. São espanhóis, da região da Galícia. A gente sabe que a Espanha tem muitos atritos regionalistas, como na Catalunha, no País Basco e na Galícia. Na década de 1930, o futebol já era um esporte de massa, praticado pelas elites e nas áreas populares de Salvador - explica Uzêda.

Além das outras instituições, como o Hospital Espanhol, o Clube Espanhol, os galegos fundaram o Galícia, para reforçar os laços nacionalistas. Tanto é que tem o nome da região, o brasão de Santiago, as cores… O Galícia foi muito temido, conseguiu rivalizar com o Bahia, alguns jornais davam como o clássico da cidade. Foi o primeiro tricampeão baiano e trouxe jogadores galegos para jogar pelo Galícia. Tanto por uma questão técnica quanto nacionalista. Foi um time forte nesta época".

Tempos de glória
Não demorou para a equipe despontar como uma grande força regional. Campeão pela primeira vez em 1937, o Galícia foi o primeiro time a conquistar o tricampeonato estadual, nos anos de 1941, 1942 e 1943.

Para se ter uma ideia do imponência do Azulino na época, o clube foi finalista do Campeonato Baiano em nove temporadas consecutivas, entre 1935 e 1943. Foram os anos mais gloriosos da equipe fundada há 91 anos.

E a história de sucesso do time não parou por aí. Em 1968, o Azulino conquistou mais um título baiano e ainda foi vice-campeão em 1967, 1980, 1982 e 1995. A equipe também tem no currículo duas participações na 1ª Divisão do Campeonato Brasileiro, em 1981 e 1983.

Dentre os espanhóis que fizeram parte dessa imigração e compartilham o amor pelo Galícia estão os pais de Manolo Moiños, atual presidente do clube. Desde pequeno, ele herdou a paixão da família pelo esporte e acompanha a trajetória do Demolidor de Campeões há mais de 50 anos.

- É uma relação bem antiga. Vi jogos do Galícia no Campo da Graça, na década de 70. Isso eu estava com quatro, cinco anos. A ligação é familiar, meus pais imigraram da Galícia [Espanha] para cá na década de 50, e isso acaba acaba ficando no nosso sangue, no nosso coração. E eu também gosto de futebol desde quando nasci, apesar de minha mãe dizer que a primeira frase que eu gritei foi “gol do Bahia”. Sempre gostei muito, e por isso venho ajudando aqui no clube desde 2013. Nesse período a gente se afastou um pouco, mas estamos aqui de volta tentando reconstruir o Galícia de uma maneira que possamos resgatar as nossas origens e reativar a ligação entre Brasil e Espanha - relembrou Manolo.

Foto: Divulgação 


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